segunda-feira, 27 de junho de 2011

Viver junto sem o outro




Estamos vivendo uma época de grandes transformações sociais, onde as modalidades de relacionamentos estão se transformando e ganhando novas nuances bem peculiares a este século. Estamos na era da informação e do florescer tecnológico, a globalização dissipou as fronteiras entre os homens não existindo nada mais que esteja distante, uma vez que tudo o que o indivíduo deseja encontra-se a um clique do mouse. É difícil encontrarmos pessoas que não estejam emersas em pelo menos uma rede social virtual. A nomenclatura para os indivíduos conectados pela rede modificou transformando os conhecidos em “amigos”, sendo assim, é comum vermos pessoas com centenas destes “amigos” sem que nunca tenham trocado pelo menos um olhar. O que percebemos é a existência de uma gama de momentos compartilhados em conversas superficiais, relações rasas, e um número pequeno de trocas significativas de experiências existenciais.

É justamente neste contexto de crescente aumento das possibilidades de interação entre os indivíduos que o homem vem sendo acometido pelo conhecido discurso da solidão, sendo este o grande paradoxo do nosso tempo: viver junto sem o outro. Um fenômeno considerado oculto por muitos, mas suas manifestações estão cada vez mais aparentes e invadem nossos consultórios de psicologia, denunciando o grande vazio presente nas relações modernas e que tem produzido um número significativo de adoecimento psíquico.

Logicamente que este quadro não pode ser analisado sem nos atentarmos para a característica marcante de nossa geração que é sem dúvida a velocidade como as coisas acontecem: em 30 segundos a comida está pronta e se não gostarmos é só jogar fora e pronto. O mesmo tem acontecido nas interações entre os seres humanos, os laços sociais são feitos e desfeitos na velocidade da luz, se não estiver “ao gosto do cliente” é só bloquear ou deletar, isso por acaso te faz lembrar alguma coisa, prezado leitor?

Conversamos, interagimos, brincamos, compramos, fazemos atividades sociais, participamos de reuniões, nos vinculamos a alguma comunidade religiosa, estudamos, trabalhamos, gastamos horas na internet, enchemos nossa agenda de atividades, mas continuamos vazios de relações significativas e profundas, vivemos sós em meio à multidão, isolados em nossa própria sociedade. Será que a forma como estamos conduzindo nossas vidas e nossas relações estão mais significativas? Quais são os efeitos de trocarmos os longos bate-papos no portão com os amigos por chats na internet? Por onde andam as doces cartas românticas que eram enviadas pelos casais enamorados? Suponho que devem ter parado em alguma caixa de spam. Não há como negar o fato de que proximidade física não é sinônimo de proximidade emocional, também não podemos desconsiderar o fato de que para haver relação é necessário que exista transformação, neste sentido, fica a minha indagação: qual o tipo de transformação que as relações do séc. XXI tem provocado? Vamos pensar sobre isso.



Vanessa Wiegratz

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...