segunda-feira, 27 de junho de 2011

SOLITUDE: o silêncio que nos faz escutar

Em minhas experiências clínicas muitas vezes deparo com pessoas que ao pensarem sobre os inúmeros afazeres que tomam conta de seu dia-a-dia dizem sentir falta do “nada”, um momento onde são tomadas por um sentimento de nostalgia significativa do tempo em que apreciavam as oportunidades de ficarem a sós consigo mesmas, experenciando suas emoções, entrando em contato com suas dores, alegrias, dilemas e vazios, vivendo exatamente o “nada”, mas este “nada” não se trata de algo sem conteúdo ou sem expressão vivencial, mas um momento em que o barulho do mundo lá fora torna-se inaudível em decorrência da grande necessidade de mergulhar profundamente em si mesmo.

A contemporaneidade tem colocado o individuo frente a uma crescente desvalorização do espaço privado, fazendo com que este se afaste cada vez mais de si mesmo e viva em decorrência do ideal coletivo. O discurso que impera em nossos dias é o da massa, sendo este impessoal e transitório onde o senso de valor das pessoas tem sido construído a partir do arquétipo capitalista, sendo que este tem modelado o seu comportamento e a forma de interação do individuo consigo mesmo e com os outros. Tal fato tem causado grande preocupação a nós, profissionais da psicologia, uma vez que temos testemunhado a ampla dificuldade do Homem do século XXI em construir significações pessoais e desenvolver sua interioridade, ou seja, a capacidade de lidar com aquilo que lhe é inerente, entrando em contato com o que é vivenciado em seu mundo intrapsíquico e que não pode ser compartilhado com o outro e sim experenciado por ele na solitude.

Françoise Dolto, médica e psicanalista, nos coloca frente ao conceito da solidão como modo de regeneração para o homem, evidenciando a necessidade de o indivíduo estar só em alguns momentos, uma vez que tal experiência possibilita a construção de sua vida simbólica, lhe dando ferramentas para lidar com suas fragilidades e limites. Sem desconsiderar o conceito de solidão proposto por Dolto, proponho pensarmos neste termo fazendo uma pequena modificação em sua nomenclatura, a fim de ajudar-nos em sua compreensão, troquemos, então, solidão por solitude.

A luz da interpretação psicológica a solidão está intimamente relacionada a uma forma patológica de viver, evidenciando em muitos casos uma disfunção social. O indivíduo solitário sente-se sozinho mesmo quando está cercado por várias pessoas, esta sempre absorvido em um vazio que não pode ser preenchido por coisas, pessoas, atividades, trata-se de um mal-estar constante frente à vida e tudo o que se relaciona a ela, podendo indicar um quadro de depressão. A solitude, no entanto, é uma escolha do indivíduo em permanecer só, está ligada a sua vontade, a contemplação, ao contato com aquilo que é mais intimo ao ser, não deixa de ser também um lugar de confronto. É por meio da solitude que o indivíduo é capaz de encontrar o sentido de sua vida, e desenvolver a saúde psíquica, uma vez que produz o autoconhecimento. A solitude é o silencio capaz de nos fazer escutar, é o “nada” que significa muito. Em qual situação você se encontra? Solidão ou solitude? 

Vanessa Wiegratz

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