segunda-feira, 27 de junho de 2011

Onde estão os nossos segredos


O que separa o íntimo, aquilo que nos é privado daquilo que é público e passível de ser compartilhado com o outro? Quem temos convidado para participar de nossas experiências e compartilhar nossos desejos? Temos visto cada vez mais a intimidade do ser humano ser exposta no palco da vida, por meio dos meios de comunicação, sobretudo, a internet, não existe mais lugar para o espaço privado no século XXI, não dá forma como conhecíamos anteriormente, o lugar onde nos deslocamos do cenário coletivo e nos recolhemos ao porão de nossa alma, nos reservando ao nosso lugar secreto, afinal nem tudo o que desejamos, pensamos e fazemos precisa ser verbalizado, mostrado e escancarado diante do outro, como acontece por meio da internet, da TV e dos demais veículos de comunicação. Nossa subjetividade encontra-se desprotegida, sem muros, permitimos que diversos indivíduos transitassem pelas ruas, avenidas e becos da nossa mente e de nossa alma sem pedir licença e o que mais me causa espanto é que isso acontece, na maioria das vezes, com a permissão daquele que é invadido. A intimidade não é mais íntima.


Na internet o universo secreto é descoberto, os mistérios são vistos a olho nu, no entanto, manter este mistério é uma necessidade humana. Seria então a internet um instrumento do século XXI cuja função é abrir a fantasia, colocando-a exposta a todos? Por um lado derrubamos uma barreira que sempre desejamos e alcançamos a liberdade, liberdade sexual, de expressão, de ir e vir, liberdade religiosa e tantas outras, enfim somos livres, somos mais francos, mais “honestos”, e bem mais entediados, uma vez que nos tornamos prisioneiros desta mesma liberdade, onde não há mais espaço para o secreto, para o íntimo, somos obrigados a conviver com os desejos alheios em nossa tela do computador, nos programas de televisão, nas revistas que lemos.

Vida particular, vida privada não é engodo, não é estelionato, o ser humano tem direito a ter os seus segredos, a não compartilhar tudo, a guardar para si as suas fantasias e nem por isso ser considerado falso, obscuro ou mentiroso. Todo indivíduo tem o direito e a necessidade de manter aspectos secretos de sua existência e não saber tudo sobre o outro é o que mantêm a relação estimulante e geradora de desejo. O mistério é fundamental nas relações, a transparência total apaga a fantasia, inocula a falta e sem falta não há desejo, sem desejo onde fica a vida? Tirar o véu de tudo aquilo que é real é grande tragédia de nossos dias.


Vanessa Wiegratz

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