Não temos a chave do coração de ninguém, se é que este tem porta, mas sabemos que são vários os possíveis motivos que podem fazer com que um indivíduo se feche para o amor, seja este o amor romântico ou o amor por aqueles que os cercam, que não está necessariamente ligado à paixão. Decepção, desilusão, traição, ingratidão, mentira, falta de carinho, desrespeito e inúmeros outros fatores que podem fazer com que as pessoas tornem-se céticas diante do amor, pelo menos durante algum período da vida. Somos frutos de nossas interações com o outro, a existência é a relação entre nossa história social e a nossa história pessoal, sendo que, o que somos hoje é fruto de nossa aprendizagem no decorrer da vida.
Tal fato nos leva a entender que nunca entramos em uma relação romântica sem estarmos de alguma forma “marcados”, e essas marcas não são feitas apenas por outras relações amorosas, mas podem ser consequências de interações, traumáticas ou não, em outras esferas de nossas vidas, das quais originaram medos, ideias, princípios e valores que muitas vezes o individuo é incapaz de nomear. Mas então, porque nos ferimos? Porque as relações humanas são, em muitos momentos, tão insustentáveis ou frustrantes? Qual é a faca que dilacera sem o menor pudor os corações dos seres humanos? Tais perguntas ocupam grande parte da mente daqueles que se dedicam a entender os dilemas dos amantes, e não são poucos os livros e teorias que tentam responder essas questões, no entanto, por mais longe que um Homem consiga chegar em suas teses, ele nunca conseguirá dizer com exatidão o resultado de seus devaneios, a palavra sempre escapa no momento que lhe atribuímos algum significado.
Nossa vida é marcada pelo sentido que damos aos eventos que compõem a nossa existência, sendo esta significação completamente subjetiva e unilateral, ressalto que quanto afirmo ser a significação um fenômeno unilateral refiro-me ao fato imutável de que somos donos das palavras que pronunciamos e dos comportamentos que emitimos, no entanto, não temos nas mãos o menor controle sobre as conseqüências que estes podem gerar no outro. Isto ocorre devido a algo que caracteriza as relações humanas: a sua incomunicabilidade.
O que isso quer dizer? Quer dizer que independente de nossas intenções, boas ou más, sempre existirá um abismo intransponível entre aquilo que falamos com outro e aquilo que é compreendido por ele, ou seja, as nossas relações sempre serão permeadas por uma estranheza que vez outra se mostra por meio de frases desesperadas como: “mas não foi isso que eu quis dizer” ou “você entendeu errado, pois não foi isso que eu disse”, por acaso isso te soa familiar, prezado leitor. Ao escrever este artigo estou sendo tomada pela fragilidade que existe na mensagem que quero transmitir, uma vez que jamais conseguirei traduzir de forma inequívoca o que se passa em minha mente sobre o tema do qual propus abordar, e mais do que isso, estou fadada a um universo de interpretações que serão feitas por aqueles que irão ler as minhas palavras, que podem ser absurdamente diferente da ideia original que desejei transmitir no ato de minha escrita.
Mas o que isso tem a ver com as nossas relações afetivas? Muita coisa. No momento em que nos relacionamos com o outro, desde o instante do encontro estamos carregando conosco uma folha com várias inscrições, o que nomeei anteriormente como as marcas que nos são causadas, isto é, a nossa própria história, da mesma forma o outro individuo com o qual nos relacionamos traz consigo outra folha, com outras marcas. Assim, a forma como interpretamos as mensagens que nos são transmitidas no decorrer dos anos, faz com que tenhamos expectativas, ideias, exigências únicas, de forma que criamos em nossa mente arquétipos do que entendemos como bom e mal e lançamos sobre o outro a responsabilidade de cumprir as nossas expectativas e entender o nosso desejo para poder assim realizá-lo.
Mas infelizmente ou não, o nosso desejo não é passível de realização, uma vez que não existem palavras o suficiente para nomeá-lo e por isso não temos instrumentos capazes de tornar claro para o outro o que de fato desejamos dele. Isso pode ser percebido quando nos deparamos com situações em que temos “tudo”, o nosso parceiro demonstra fazer todas as coisas para suprir nossas necessidades, mas em nosso íntimo algo grita, dizendo: “mas se ele soubesse o que eu realmente queria eu seria feliz”, “se ela compreendesse o que eu falo seria capaz de realizar o que eu tanto quero”. Então, a grande questão que quero trazer à tona é: somos feridos? Deixamos-nos ferir devido ás nossas expectativas impossíveis de serem satisfeitas? Ou as feridas e decepções que vivenciamos em nossas relações são frutos de desejos que nem nós mesmos sabemos qual é? Não se esqueça, por mais juntos que estejamos do outro sempre haverá um abismo que nos separa: A PALAVRA E SUA INCOMUNICABILIDADE.
Vanessa Wiegratz
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