sábado, 28 de janeiro de 2012

O que quer uma mulher?





O que quer uma mulher? Pergunta Freud, no auge de seus estudos sobre a feminilidade, no entanto, muito tempo se passou após está indagação dirigida pelo pai da Psicanálise a Maria Bonaparte, e muito pouco foi descoberto a fim de desvendar tal mistério. Definitivamente, vou me apartar, ainda que brevemente, dos postulados científicos, das teorias machistas e dos discursos teóricos dominantes e abrirei umas aspas para lhes dizer o que de fato queremos, prezados homens!


Chega de dizer que somos castradas, isso todas nós já sabemos, é óbvio que estamos cientes de nossa falta e de nossos buracos, sabemos que nunca seremos completas por elementos desta cultura, já está claro que a completude transcende à nossa espécie. Para que tanta ladainha sobre o fato de sermos o sexo frágil, afinal, quem disse que fragilidade é defeito, não viemos estragadas de fábrica.

Diga-me, por gentileza, de que modo um homem, perdoe-me Freud, seria capaz de traduzir o nosso desejo? Qual resposta alguém fora de nós mesmas, seres do sexo feminino, daria a essa indagação, senão algo dito pelo seu próprio desejo ou fantasia a nosso respeito. Francamente, o que quer uma mulher só pode ser respondido por uma mulher, me parece óbvio, não é mesmo.


Então, o que marca o nosso desejo? Digo-lhes. Uma mulher quer mais que palavras, gestos, ou ideias românticas, já estamos vacinadas contra tudo isso. Queremos LIBERDADE, isso mesmo, LIBERDADE para sermos quem somos, do jeito que somos, sem ter que explicar nossos motivos, sentimentos, pensamentos, vontades e, principalmente, nossos desejos.


Talvez, seja mais esclarecedor dizer o que não queremos mais, nem sob tortura. Não queremos ser a sombra do gênero masculino, reféns de seus pensamentos a nosso respeito, não queremos traduzir em nosso corpo, um ideal que não veio de nós e sim deles, os homens, e isso não é, nem de longe, uma atitude revoltada, e sim uma postura libertadora.


Definitivamente, não queremos mais ser o que fizeram de nós, queremos descobrir o que realmente somos, ainda que para isso gastemos mais séculos e séculos de reflexões, erros e acertos. Precisamos, urgentemente, descobrir a fórmula da feminilidade perdida, ou se isso já não for mais possível, queremos construir o nosso próprio jeito de ser mulher.


Queremos os atributos que nos cabe, queremos o amor que nos é devido, queremos ser desejadas por quem somos e não pelo que deveríamos ser, queremos o beijo que nos foi roubado, a sensualidade que foi transformada em sexo casual. Chega de ser um espetáculo para homens egoístas, individualistas e banais, não somos mais um item a venda na sociedade de consumo em que vivemos, nossa anatomia não traduz a nossa verdade, ou quem ai acredita que pelas curvas se conhece uma estrada, permitam-me o trocadilho.


Ao longo da história muito foi dito a nosso respeito, e cada palavra, ainda que fruto de inverdades, foram delineando nosso retrato, afinal, tão logo nascemos nos tornamos a tradução do imaginário masculino. Queremos o que nos foi tirado há séculos, nossa reputação, nossa dignidade, nosso desejo, nossa libido, nosso jeito diferente de ser. Mulher não é homem, mulher é mulher.


Concordo com Lacan, quando este diz que “a mulher não existe”, de fato, essa mulher, tal qual se vê, não é verdadeira, por isso não pode existir. Posso não saber muito sobre este meu gênero feminino, mas de uma coisa tenho plena convicção: os homens irão se surpreender quando nos conhecer, espere só a gente nascer do jeito que tem que ser. Será essa uma Revolução feminina? Não, é bem mais que isso. É o nascimento do feminino, o nascimento da MULHER.

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